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José Serra e as redes sociais nas Eleições 2010

José Serra e as redes sociais nas Eleições 2010

Uma eficiente campanha no universo online ainda poderá ser revertida em votos no universo real?

Anna Carolina Cardoso Pinheiro


A ementa da disciplina de Jornalismo Multimídia IV previa a análise do uso da internet, de modo especial das redes sociais, nas eleições brasileiras de 2010. E assim foi feito: durante seis semanas a classe se dividiu em seis grupos – três acompanharam os principais presidenciáveis (Dilma Rousseff, José Serra e Marina Silva), um monitorava o que saia nos noticiários, outro se dedicou aos especialistas, críticos de política e o último ficava atento à repercussão, à reação do povo. Assim, durante as apresentações semanais tínhamos um panorama completo de como prosseguia os preparativos para o pleito eleitoral, desde as pesquisas, passando pela agenda de cada candidato e pelas pesquisas eleitorais, até a análise dos debates por grandes nomes como José Roberto de Toledo.

José Roberto de Toledo, jornalista político do Estado de S. Paulo e autor do blog Vox Publica

Semana a semana o grupo do noticiário apresentava as últimas pesquisas de intenção de voto. Para a surpresa da sala, os números contrariavam nossas observações: Dilma Rousseff abria cada vez mais vantagem sobre José Serra, o segundo colocado, mesmo não comparecendo a todos os debates (nos quais participou não obteve bom desempenho, tanto para os especialistas quanto para o povo) e sendo vítima de piadas na internet constantemente. Embora apontado, até mesmo pelos eleitores de outros partidos, como o mais preparado e com uma política sólida nas redes sociais, o número de entrevistados declarando que votariam no candidato tucano só diminuiu durante o período observado. Por que? É a essa pergunta que esse ensaio pretende responder!

José Serra

Nosso trabalho começou com o levantamento sobre as redes sociais das quais o candidato do PSDB fazia parte. No Twitter, Serra agia com duas frentes – uma conta pessoal, operante desde o ano passado, e uma mantida pelo chamado Time 45 (@Rede45), sua equipe na rede mundial de computadores. Talvez por ser o presidenciável há mais tempo na rede de microblogs, o economista era, disparado,o candidato com maior número de following, de followers e de tweets. Na conta pessoal (@joseserra_) destaque para as peculiaridades do tucano: o seguidor sente empatia pelo modo humanizado com que José Serra escreve, mesclando tweets sobre o Palmeiras, seu time do coração, comentários sobre sua atuação na vida pública, sobre sua vida familiar, respondendo a perguntas feitas pelos eleitores, dando dicas culturais e a visão do próprio candidato sobre a campanha (Serra portava uma câmera durante os eventos da campanha e colocava as imagens na internet depois).

No Facebook, também havia um perfil de Serra, com um aviso: “página mantida pela equipe da campanha Serra presidente”. O não ser digitada a próprio punho é responsável por uma tática diferente: com a postura mais distante do eleitor, são postadas mensagens mais objetivas, como a agenda do candidato e trechos dos seus melhores momentos em entrevistas e debates. Embora não haja como uma via de dois lados, o público se expressa também no Facebook, de maneira, proporcionada pela própria ferramenta, mais visível ao internauta – são muitos os “curtir” e os comentários que se seguem a cada postagem.

Mesmo sendo a rede social mais usada no Brasil, a participação do candidato no Orkut era tímida – poucos amigos no perfil oficial de José Serra, mantido pelo Time 45. Tal como no Facebook, chamava a atenção o número de pessoas nas comunidades (ou grupos) tanto de apoio, quanto de oposição ao presidenciável.

O site oficial da campanha (www.serra45.com.br) utilizava as cores do partido e era de grande interatividade, podendo o eleitor, inclusive, dar sugestões para o possível futuro governante – clicando em “Proposta Serra”, o eleitor escolhia o tema e sugeria o que gostaria que fosse feito naquela área. Ainda no site, destaque para o download de material de campanha e o “Combata o boato”, no qual o internauta poderia denunciar o que era veiculado ou dito contra o tucano.

Durante nossa segunda semana de acompanhamento da atuação de Serra nas redes sociais, pudemos sentir o impacto do primeiro debate organizado por um portal de notícias na internet e do início do horário eleitoral gratuito no rádio e na televisão. Em decorrência do segundo, aliás, o candidato manteve-se, por dois dias consecutivos, no topo dos Trending Topics do Twitter, ou seja, dos assuntos mais comentados do dia na rede de microblogs. O motivo foi um trecho do discurso, que deu origem a brincadeira do “Serra comedor”, vídeo amplamente divulgado durante a semana e que o candidato do PSDB levou com bom humor.

Com a campanha começando nos grandes veículos de comunicação em massa, aumentou-se o uso de mais duas redes sociais: o Flickr e o Youtube, sendo a primeira para a divulgação das fotos dos bastidores do debate e da campanha “corpo a corpo” pelo país, e a segunda para dar ao eleitor que não assistiu ao horário político televisivo a chance de fazê-lo, e a qualquer hora. No site oficial, links para todas as redes sociais. A semana foi marcada ainda por uma novidade, o souserra.com.br, no qual a pessoa faz o cadastro e pode fazer perguntas ao Time 45 e compartilhar informações e imagens com outro eleitores do candidato pelo país. Um mapa mostrava a quantidade de cadastrados em cada município brasileiro.

A partir da terceira semana de análise, uma mudança na postura de Serra foi observada. Na semana em que aconteceu o debate na rede católica de televisão Rede Vida, mensagens no Twitter e foto com o papa no Twitpic mostravam a tentativa do candidato de firmar-se como o escolhido pelos cristãos, principalmente por, diferentemente de sua principal adversária, a petista Dilma Rousseff, ser contrário ao aborto. No Orkut, o povo mostrou concordar: surgiu a comunidade “Católico não vota em Dilma”. A imagem da possível futura primeira dama começou a ser mais presente na rede, uma forma de contrabalancear o apelo que a candidata do PT fazia para conquistar o voto feminino.

Comunidade criada no Orkut para criticar a candidata petista, a favor do aborto

Há quatro semanas das eleições presidências, o site oficial da campanha ficou fora do ar por dois dias. As acusações de que se tratava de mais uma estratégia da oposição para desestabilizar José Serra logo surgiram, e ganharam adeptos, principalmente no Facebook. Quando a situação foi, enfim, normalizada, os eleitores firam brindados com um novo layout, que permitia maior interação com o público e incluía a contagem regressiva para o dia 03 de outubro. No Facebook começaram a ser divulgados também os programas eleitorais radiofônicos e o Time 45 anunciou uma nova rede social – o Vimeo. Observou-se ainda perguntas diretas ao eleitor, o que antes não acontecia. O público parecia aprovar – desde o início da observação foram três mil novos fãs.

Há um mês do pleito eleitoral, a popularidade de José Serra só crescia na rede. O candidato atingiu a marca de 400 mil seguidores no Twitter (o que foi inclusive destaque nos Trending Topics Brazil) e os fãs no Facebook não paravam de crescer. O próprio Time 45 reconhecia como a popularidade na rede era importante – muitos elogios à participação popular na campanha e o apelo, a hashtag Hora da Virada, amplamente propagada pelo Twitter. O maior destaque, no entanto, foi o vídeo criado pela equipe, “Revolução digital 2.0”. Em pouco mais de dois minutos, a equipe do PSDB mostrou como os brasileiros têm utilizado as novas mídias e tecnologias e como são essas as pessoas que poderiam mudar o rumo até então apresentado pelas pesquisas, de Dilma Rousseff vencendo ainda no primeiro turno. A proximidade do tão esperado 03 de outubro fazia de Serra mais agressivo, tanto na televisão como no Twitter. Ainda assim, os resultados não eram favoráveis – Dilma crescia, Serra caia.

Na quinta semana de análise foi anunciado o “Retratos do Serra”, uma coletânea de 12 vídeos mostrando a história e trajetória política do economista – mais uma tentativa de mostrar como Serra era o mais preparado para ocupar o cargo máximo do Executivo brasileiro. Emails circulavam com carta escrita por bispo católico, fazendo o apelo “não votar no PT é dever cívico e cristão”. Nem mesmo a denúncia de que o sigilo fiscal da filha e pessoas próximas de José Serra foram quebrados mudavam os rumos das pesquisas.

Os últimos dias de nossa observação mostraram os reflexos do “Revolução digital 2.0”. Serra, que antes tinha pouco mais de 300 amigos no Orkut, ultrapassou os mil, iniciando um segundo perfil. No site oficial, uma nova mudança: quem acessasse o site podia declarar seu voto, tentando atingir a meta estabelecida diariamente – eram os comitês digitais. Os followers continuavam crescendo e mais uma hashtag foi emplacada nos TT: fala FHC. Cresciam ainda os apelos para conquistar votos nas regiões Norte e Nordeste. O clímax da semana foi o anúncio de que, se eleito, José Serra implantaria salário mínimo de 600 reais ainda no primeiro ano do mandato.

As consequências

No decorrer de seis semanas pudemos perceber como a internet, a exemplo do que ocorreu nos Estados Unidos em 2008, agora é veículo importante nas campanhas eleitorais. Ainda assim, observamos que o público brasileiro que faz uso da rede mundial de computadores para informar-se é limitado. Apesar do crescimento constante de popularidade em todas as redes sociais das quais participa, apenas na pesquisa eleitoral divulgada em 22 de setembro observa-se um crescimento na intenção de votos para eleger José Serra, consequência provavelmente de mais um escândalo do governo Lula, o caso Erenice Guerra.

Sabendo que a chance de, segundo o jornalista político José Roberto de Toledo, ser entrevistado por uma agência de pesquisas eleitorais na cidade de São Paulo é de 1 em 66 mil pode-se pensar que, a exemplo do que já aconteceu em eleições anteriores, o resultado observado nas urnas seja diferente do das pesquisas. Os eleitores de Serra acreditavam piamente nisso e são atuantes na campanha para elegê-lo. Se a tática de fazer das redes sociais suas aliadas na disputa pela presidência do Brasil trará ou não o resultado esperado, ainda não é possível saber, mas uma coisa é certa: é um caminho sem volta, não é mais possível imaginar um processo eleitoral brasileiro sem o uso da internet.

Para nós jornalistas, fica ainda uma lição. Em pleno século XXI é inconcebível que alguém da área da comunicação não esteja antenado o que acontece no mundo e as redes sociais podem ter essa função. O Twitter que antes agia como um mini diário virtual é hoje muito mais utilizado como uma maneira rápida, prática e sucinta de trocar informações, forçando todo jornalista e veículo de comunicação a manter sua página. Sempre com a ressalva de que, ao menos no Brasil, as novas tecnologias atingem, por enquanto, um nicho muito restrito.

 

(relatório escrito em 23/09/2010, para a disciplina de Jornalismo Multimídia IV)